ARTISTAS LOCAIS E DE OUTRAS PARAGFENS

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DO BARRO À ARTE


(Imagem 3/5)

Do barro à arte


 





“Tudo de Barro”, e instalação “Em obras, de Bosco Lisboa: participação no Rumos Itaú Artes Visuais A sombrinha pendurada no chapeleiro, roupas bem dobradas, um par de chinelas, mochilas à espera do viajante. Objetos que passam despercebidos na cena cotidiana são fontes de inspiração para o artista plástico Bosco Lisboa.

Do barro, surgem objetos utilizados no cotidiano. “Coloco esses objetos em destaque, porque de tanto a gente vê-los não damos a eles o devido valor”, define. Parafraseando um trecho da música “ O Estrangeiro”, de Caetano Veloso, Bosco afirma que “o amor é cego”, pois de tanto as pessoas conviverem com esses objetos, numa “relação de amor”, quase não os percebem. Mas na sua obra, eles tomam uma nova dimensão. O artista foi selecionado para o programa Rumos Itaú Artes Visuais, 2005/2006.

Há 17 anos, Bosco faz esculturas em barro, tendo obtido reconhecimento em várias edições do Salão de Abril, promovido pela Prefeitura de Fortaleza. A última “honra ao mérito” é figurar entre os 78 selecionados entre 1342 inscritos na terceira edição do programa Rumos Itaú Artes Visuais. Com riqueza de detalhes e traços bem delineados, suas obras mostram formas leves, em contraste com o peso da matéria-prima. Trabalha com outros materias como fibra de vidro, madeira, concreto e esponja de poliuterano, principalmente sob encomenda. Mais de vinte trabalhos em fibras de vidro na estrutura temática do Beach Parque, no Porto das Dunas, receberam sua marca dentre eles: a esfinge, o sarcófago e a onda de quatro metros. Outros trabalhos de Bosco estão na barraca Atlantis, na praia do futuro. Lá se encontram mais de 30 esculturas de concreto.

Segundo Bosco, as primeiras paixões que lhe serviram de ponte para as artes plásticas foram a música e o teatro, descobertas num seminário em Juazeiro do Norte, cidade onde nasceu. Ingressou na vida religiosa por vontade da mãe, que o queria padre. Aos 17 anos, deixando o seminário, visitou exposições de esculturas em barro, e a empatia pelas peças, conta, foi “muito natural”. O artista cria em qualquer lugar. Em casa, deitado numa rede, observa vários objetos a sua volta, reproduzindo-os artisticamente através do barro. Alguns temas de suas obras nessa matéria-prima são “Acabei de chegar em casa” e “Roupas passadas”. Um varal de estender roupas foi o seu primeiro trabalho. “Geralmente o varal fica escondidinho, lá no jardim de trás da casa. Esculpi um varal de barro e a pessoa que me comprou o colocou na entrada da casa dela”, conta. Bosco é enfático ao dizer que o artista sofre, “porque enquanto a inspiração não se traduz no objeto, o artista não dorme”. E diz que a sua vida se resume em “trabalho, trabalho e trabalho”. Ele explica: “ porque ou estou acordado trabalhando ou dormindo, sonhando com o próximo trabalho”.

O pai também não o queria artista. Teimoso e a contragosto dele, que pretendia que seu filho fosse médico, Bosco optou mesmo pela arte. Sua família chegou a tentar interná-lo num hospício por sua opção profissional e seu processo de trabalho. Ele criava dioturnamente. “Meus pais morreram pensando que eu sou louco”, revela.

Durante os primeiros 15 anos de artes plásticas, costumava devorar livros sobre as obras dos mundialmente conhecidos Gian Lorenzo, Michelângelo e Victor Brecheret. A ceramista cearense Cícera Fonseca também o apoiou e o influenciou.

Na cidade do padre Cícero, fez muitos trabalhos de temática sacra, mas sua predileção é retratar elementos do cotidiano. Em Fortaleza há 10 anos, desenvolve sua arte num ateliê na Sabiaguaba. Mas já está de mudança marcada para São Paulo, pois a capital cearense ficou pequena, para a dimensão da sua arte. “Não há mais mercado por aqui, não tem pra onde crescer. Acrescenta que o estímulo para a arte em Fortaleza ainda é muito limitado.