ARTISTAS LOCAIS E DE OUTRAS PARAGFENS

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RAIZ DO CIPÓ


(Imagem 7/5)

Artesão se destaca com peças de cipó



Mestre Pedro mostra uma de suas peças feitas com a raiz do cipó.






Outras peças são destaque entre os produtos fabricados por Pedro Balaieiro, o abajur e o terço





Pedro Balaieiro ou Mestre Pedro, de Guaramiranga, ganhou fama nacional e até em outros países

 Um pedido à Deus que se tornou realidade e transformou a vida de um cearense. O agricultor virou um reconhecido artesão, nacional e internacionalmente. Parece simples, mas não é. Foi com muito esforço e trabalho que Pedro Alves da Silva, hoje com 82 anos, trocou a enxada por outro instrumento: o cipó indé, descobrindo no trabalho artesanal a fonte de renda para sustentar seus oito filhos.

Pedro Balaieiro, “é assim que sou conhecido”, conta ele, é natural do município de Maranguape , mas foi no Maciço de Baturité, município de Guaramiranga, que encontrou no artesanato sua verdadeira vocação. “Eu era agricultor, mexia com a enxada. Sai de Maranguape e fui para Guaramiranga em 1949. Já estava cansado. Certa vez, olhei para o céu e pedi a Deus que me mostrasse um meio que eu pudesse mudar minha vida”.

E foi em 1953 que ele viu suas preces serem atendidas. Pedro aprendeu a fabricar balaio com a raiz do cipó Indé, para uso próprio e, certo dia, recebeu uma encomenda de 10 mil balaios. Daí por diante não parou mais, pelo contrário, só aprimorou sua arte. Atualmente fabrica, com a mesma matéria-prima, galinhas — que servem de porta-ovos —, abajur, terço etc. “Quando participei, pela primeira vez de uma feira em Ibirapuera, na cidade de São Paulo, uma mulher me encomendou 70 mil balaios”.

Orgulho

Ele se orgulha em dizer que sua fama chegou longe, em outros Estados e até fora do Brasil. “Existem peças fabricadas por mim em museu de Portugal, Alemanha e no Vaticano, que é um chapéu que o papa João Paulo II usou”, conta Mestre Pedro satisfeito. Mestre sim, pois, segundo ele, recebeu o título de Mestre do Mundo, recentemente, no Encontro de Mestres do Mundo que aconteceu em Juazeiro do Norte. Antes, já tinha ganhado o de Mestre da Cultura. Ele também já foi fonte de reportagem da Revista Cláudia.

Em alta

Pedro Balaieiro conta que uma das grandes atrações do momento de suas produções são os terços. “A fabricação deles está em alta. Vou ter que fabricar agora três mil, que serão enviados para Portugal”. Essa intermediação de vendas é feita com a ajuda da Central de Artesanato do Ceará (Ceart), do Governo do Estado, que tem como objetivo principal ajudar a divulgar e na produção de artesanato do Ceará e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos artesãos. Os seus produtos também são vendidos na Ceart, em Fortaleza.

Uma outra peça de destaque é o abajur. Segundo ele, a quantidade de produção varia muito, depende da semana. Este produto, por exemplo, o artesão conta que chega a fazer até dez por semana. Cada um custa R$ 50,00. “Passei 32 anos vendendo nas portas dos hotéis da região. Mas, agora, graças a Deus, as pessoas vêm até mim para comprar”.

No entanto, mesmo tendo fama, ele não deixa de expor seu material. Por isso, todos os fins de semana e durante os feriados, Mestre Pedro está na Pousada do Convento dos Capuchinhos vendendo suas peças de artesanato. No sábado espera o cliente até as 17 horas. Já no domingo, fica até as 16 horas vendendo.

De pai para filho

Outra bênção para Pedro Balaieiro é ver que seu ofício está passando de geração em geração. “Fico muito feliz em ver que tenho dois filhos que seguiram a profissão de artesão e os netos também estão começando a trabalhar na mesma atividade”, destaca o artesão.

Um dos filhos é Francisco Cícero Alves, 38 anos. Ele conta que começou com 13 anos. “Aprendi a arte com meu pai”. Cícero fabrica as mesmas peças do mestre, mas com uma diferença, em menor tamanho. “Eu me especializei em miniatura. Faço todas as peças que ele faz, mas de tamanho pequeno”. Cícero vende os produtos juntamente com o pai.

Demanda crescente

Um de seus produtos mais vendidos são os brincos. Cícero diz que fabrica de 20 a 30 pares por semana e a demanda está crescendo cada vez mais, principalmente agora, depois que os objetos estão sendo usados por atrizes da novela Malhação, da Rede Globo. “Um dos diretores da Malhação, quando esteve no Ceará gravando, veio conhecer a cidade de Guaramiranga e comprou cerca de 25 pares de brincos para dar ao elenco da novela”, revela o artesão.

Ele conta que, depois dessa visita, mais pessoas chegaram lá para comprar os brincos. “Têm gente que chega aqui dizendo que viu o brinco na televisão”. Os formatos são os mais variados, flôr, peixe, sino para a época do Natal. Existem também os chapéus, de cowboy, de madame. Cícero, que é casado e pai de três filhos, tem como única renda a venda dos produtos que fabrica. “Graças a Deus, está muito bem”.

Suas peças também vão para a Ceart. Entretanto, o ritmo de fabricação caiu um pouco. O artesão conta que, devido ao período de chuvas, fica mais complicado de conseguir a matéria-prima, o cipó. “Sou eu mesmo que pego. Tem que entrar na mata para pegar”.

Francisco Cícero explica que só pode ser utilizado o cipó maduro porque, caso use o verde, a planta morre. “Tirando o maduro, a gente está ajudando a planta a se desenvolver cada vez mais”.


Evelane Barros
Repórter


Mais informações:

Mestre Pedro - Guaramiranga
(85) 8654.8098

Francisco Cícero Alves
(85) 8722.3196